Foto: Fernando Prandi
A Pluri Consultoria fechou um relatório de mais de 60 páginas com muitas informações e rankings de público e renda no futebol brasileiro do ano passado, onde leva em conta as quatro divisões do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores, Sul Americana, Recopa, Copa do Nordeste e 25 campeonatos Estaduais da primeira divisão. Como era esperado, houve diminuição em praticamente todas as competições. Puxada pela participação dos clubes brasileiros na Libertadores, a média total teve 1% de aumento, e o futebol brasileiro fechou o ano com média de 4.721 pessoas por partida. Porém, 11 estaduais tiveram média abaixo de mil torcedores por partida. Como há estádios muito pequenos em cidades muito pequenas, é muito melhor usar o índice ocupação dos estádios, o que teve uma diminuição e ficou em 26%. Santa Catarina registrou o 11º melhor índice com taxa de ocupação média de 28,1% e média de 3519 torcedores por partida. Em arrecadação despenca pra 17º, faturando em média R$ 48,8 mil por jogo. Na proporção entre público total no estádio em relação a população da cidade, as equipes catarinenses que disputaram as duas primeiras divisões do Brasileirão estão bem. Criciúma ficou em terceiro lugar no país com 170,8% na relação público total por população, com Chapecó em 10º, Floripa em 12º e Joinville em 22º.
Como os números aqui em Santa Catarina não são tão ruins vou pegar alguns dados já desse ano em grandes centros. O maior público do Santos esse ano foi de pouco mais de 8 mil torcedores num clássico contra o Corinthians. É a equipe de melhor campanha no estadual mais importante do país. Mas a média vem caindo ao longo das rodadas. São muitos os motivos para isso, que vão além de violência, ingresso caro e péssimos horários. Alguém realmente se espantou com o público de 375 pagantes para Flamengo x Bonsucesso às 22h de quarta-feira de Cinzas, em Volta Redonda, depois de um temporal? Já era um dia que não deveria nem ter futebol, mas não vou entrar nessa discussão.
O ingresso está caro, principalmente nos estaduais, onde os clubes que estão disputando outras competições usam equipes mistas, reservas ou até de categoria inferior nesses estaduais. Mas não baixam o preço do ingresso ou fazem pequenos descontos. Quando um time não coloca sua força principal numa partida, ele está deixando claro que esse jogo não é importante. Fica difícil assim convencer um torcedor a pagar R$ 40 ou R$ 60 já que a partida não importa. Alguns horários também não ajudam como 22h durante a semana, onde muitas cidades sequer possuem ônibus ou metrô depois da meia-noite.
Há também uma mudança no perfil dos torcedores e no status de um estádio. Houve uma época que se havia a necessidade de ir ao jogo ou ouvir no rádio para acompanhar uma partida. A oferta de transmissão na TV era menor e nunca para a cidade sede do jogo. Hoje isso não existe. Você pode acompanhar pela internet, assistir em casa ou ir num bar com amigos para ver o jogo e tomar uma cerveja, que é proibida no estádio. Se não há a necessidade de ser ir ao estádio, a pessoa vai por prazer, por vontade. Partidas ruins, desorganização e falta conforto espantam muita gente. Para quem não é fanático, é fácil tirar a dúvida entre pagar R$ 40 para ficar no sol forte ou na chuva e ir para o bar.
Quando se pensa em valor de ingresso, muitas vezes ele é pensado como algo isolado. E aí, nem parece caro. Mas não se calcula os outros gastos que fazem parte de uma ida ao estádio numa cidade grande. Se paga o que consome lá. Tem também o estacionamento ou o transporte público utilizado. Quem leva a família ao campo não deveria pagar pelo ingresso individual o que paga uma pessoa que foi sozinha. Mas como somos o país da corrupção, os clubes não adotam essa medida que aumentaria o lucro dos cambistas.
Sobre as dificuldades que os próprios clubes colocam para se ir a um jogo, dou um exemplo pessoal. No último domingo estava curtindo minhas férias em Santos e visitando parentes quando decidiram ir a Santos x Oeste. Também fui e já quase quebrei a cara do lado de fora. Como não tinha me preparado para ir ao jogo, ia ficando de fora. As bilheterias da Vila Belmiro só aceitam pagamento em dinheiro. Mas pegando emprestado consegui pagar. Há também uma inversão sem sentido para se ir a um jogo. Deveria ser muito fácil comprar um ingresso e difícil entrar. No Brasil é o contrário. Para se comprar ingresso antecipado nas bilheterias você precisa levar os documentos de quem vai entrar. Se você for comprar pra você e mais uns amigos, tem que ter documento de todos eles na hora da compra. Se algum deles for de meia entrada, além do RG, tem que levar a carteirinha de estudante dessa pessoa. Tudo isso para poder comprar um ingresso. E sei lá porque, nada disso é exigido na hora de entrar. Quem tem moto sem caixa passa por outro problema. Não se pode entrar com capacete no estádio, mas não há nenhuma guarda-volumes para se deixar o capacete. Isso sem falar que em muitos lugares implicam com coisas como guarda-chuva, radinho de pilha e até espetinho de gato. São pequenas coisas, mas que vão minando a vontade de alguém assistir ao jogo do estádio.
Os fanáticos e apaixonados por seus clubes nunca deixaram de ir. Mas tem se afastado os demais público, aquele que até gosta de futebol e do time, mas não é de fazer loucuras. Ir a um estádio tem que ser uma atividade boa, tem que ser a melhor ou uma das melhores opções para se ver um jogo e não um sacrifício. Como já falei, não há mais a necessidade de ir a uma partida, há vontade e os clubes precisam entender isso. A experiência de ser ver um jogo do estádio precisa ser melhorada e, principalmente, tem que ser facilitada a ida. Há pouco profissionalismo nessa área e o resultado se vê quando a câmera mostra a arquibancada.