A vaga na Série D e a força dos bastidores

Foto: Flávio Roberto/Assessoria CNMD

Foto: Flávio Roberto/Assessoria CNMD

Uma vez eu ouvi ou li uma frase que dizia que há dois futebol. Um jogado em campo e outro fora dele.

Depois de um conselho técnico de praxe estava definido o regulamento da Copa Santa Catarina de 2013. Pela primeira vez, havia a explicação do funcionamento das vagas catarinenses para o Campeonato Brasileiro da Série D, com exemplo tudo, não daria polêmica. Bom, não deveria dar. O Joinville foi campeão e o Metropolitano foi vice, ficando com a vaga.

Veio o Campeonato Catarinense de 2014 e a primeira surpresa: não havia uma linha sobre a outra vaga da D. A FCF passou muito tempo sem tocar no assunto, mas depois de muitas perguntas, começou a dizer que não sabia quantas vagas teriam para SC na D desse ano e que as vagas são decididas pela CBF. Marcílio Dias ou Brusque poderiam ter dado uma força, ido pro quadrangular e matado qualquer chance de polêmica. Mas não conseguiram, foi só o Metrô. A federação então começou a dizer que o regulamento da Copinha do ano passado era sobre a Série D do ano passado, apesar da competição ter acontecido depois. No final de março veio o golpe “final” no Guarani, terceiro colocado. Um ofício da CBF dizia que as vagas eram cronológicas, portanto, o Metrô já tinha uma e não brigaria pela segunda. Assim, ela viria do hexagonal, onde rapidamente o Marcílio Dias, junto com Avaí e Chapecoense, dispararam dos demais adversários.

O clube de Itajaí adiou umas duas rodadas a conquista matemática da vaga, mas ela finalmente veio. Quando se ganha algo que não se devia, se fica calado, finge que não é contigo. Era o que o Marcílio vinha fazendo. Chegou na última rodada com chances meramente matemáticas de ficar com o título do hexagonal. Para eliminar qualquer chance, o Avaí decidiu ir para o Oeste com time júnior, mesmo tendo quase duas semanas para a partida seguinte, a estreia na Série B.

Rapidamente a Chapecoense fez dois, três gols [terminou 4 a 1]. Pronto, o Marinheiro passava a cumprir tabela contra o desesperado Atlético de Ibirama. Mesmo com o jogo não valendo mais nada para a equipe de Itajaí, a torcida conseguiu se revoltar e se descontrolar, desconfiada de uma mutreta para rebaixar o Brusque [o que os marcilistas tem a ver com isso?] e da mal-intencionada arbitragem da partida. Ouvi protestos, discussão, bate-boca e a agressão ao presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Pádua Peixoto Filho, seguido de tumulto.

Pronto. O artigo da Copa SC de 2013 sobre as vagas parou de ser sobre a Série D de 2013, virou de 2014, CBF e FCF descobriram a existência desse artigo e, por isso, saiu um novo ofício com novo entendimento sobre a distribuição das vagas catarinenses. Ela sai do Marcílio Dias e volta para o Guarani. Coincidências do nosso futebol.

Agora o Marinheiro torce para que o Metropolitano fique com a vaga na Série C, o que eu não acredito, senão, acabou a temporada.

Marcílio Dias precisa do título do hexagonal para ir a Copa do Brasil

Regulamento Copa do BrasilO Avaí Futebol Clube tem pontuação suficiente no Ranking de Clubes da CBF para disputar a Copa do Brasil de 2015 sem conquistar nenhuma das três vagas catarinense na competição. E isso causa uma dúvida em muitos marcilistas, inclusive em mim: o Marcílio Dias se classificaria para a competição se terminar o hexagonal em segundo lugar e o Avaí em primeiro? Mas a resposta é não.

Está muito claro no regulamento da Copa do Brasil como funciona a classificação para as 86 vagas da competição. Vão os seis brasileiros da Libertadores da América, os vencedores das 70 vagas estaduais (Santa Catarina tem três) e depois, os 10 melhores ranqueados que não conquistaram vaga. Como tem que ser nessa ordem, se o Avaí for campeão da Taça Santa Catarina, ele vai para a competição pelo estadual abrindo uma vaga pelo ranking da CBF.

Assim, o Marcílio Dias só disputa pela primeira vez na história a Copa do Brasil se for o campeão do hexagonal. Para isso, precisa vencer o Atlético de Ibirama por dois gols ou mais de diferença no próximo sábado, em Itajaí, e torcer para Chapecoense e Avaí empatarem no Oeste do Estado.

Cronologia da disparada do Índio do Oeste

Foto: Aguante Comunicação/Chapecoense

Uma manobra salvou a Chapecoense do rebaixamento no Campeonato Catarinense no ano seguinte ao acesso a Série C. Foi no mesmo ano que a equipe disputou a Copa do Brasil. O susto funcionou. A diretoria ajeitou a casa, os torcedores, a prefeitura e as empresas da região se uniram e o Índio do Oeste não parou mais de subir. Hoje a equipe se garantiu matematicamente no Campeonato Brasileiro da Série A do ano que vem. Não deve, mas pode ser o único representante de Santa Catarina na elite do ano que vem. Confira a cronologia dessa arrancada impressionante.

04 de abril de 2010
Figueirense 0x0 Chapecoense. Chapecoense rebaixada no Catarinense com uma rodada de antecedência.

22 de abril de 2010
Em carta, presidente da Chapecoense pede “virada de mesa” no Catarinense. O pedido, rejeitado pela Associação dos Clubes, era de que Chapecoense e Juventus disputassem a Segundona já em 2010.

21 de maio de 2010
Virada de mesa! No tapetão, tribunal coloca rebaixada Chapecoense de volta à elite. O TJD-SC entendeu que o pedido de licença do futebol profissional pedido pelo Atlético de Ibirama, depois que a equipe (5ª colocada) já tinha encerrado sua participação na competição, era uma desistência e retirou todos os seus pontos. Na nova classificação final do Catarinense, a Chape passou para a oitava colocação.

15 de maio de 2011
Chapecoense campeã Catarinense de 2011 contra o Criciúma. Já no estadual seguinte ela fez melhor campanha, chegou na final com vantagem de dois resultados iguais e usou o regulamento para bater o Tigre na decisão.

30 de outubro de 2011
Chapecoense-SC 3×0 Brasiliense-DFe. Despedida da Chapecoense da Série C daquele ano com a quinta melhor campanha, bateu na trav.

29 de abril de 2012
Avaí vira contra Chapecoense e vai à final do Catarinense. O Verdão voltou a fazer um bom estadual e só caiu na semifinal.

8 de novembro de 2012
Luverdense/MT 1×0 Chapecoense/SC. Chapecoense passa pra semifinal da Série C por ter vencido o primeiro jogo por 3 a 0 e garante o acesso pra Série B

12 de novembro de 2013
Paraná 0 x 1 Chapecoense. Time da Chapecoense chega aos 65 pontos e comemora com três rodadas de antecedência o inédito acesso à Série A do Brasileirão

Que a arrancada da Chapecoense, a união entre diretoria, torcida, prefeitura e empresários e as mudanças feitas na gestão do clube depois do susto sirvam de lição para outros clubes que naquele mês de abril de 2010 estava acima do time do Oeste e hoje estão abaixo. O Marcílio Dias e a cidade de Itajaí precisam aprender que o modelo de gestão tá ultrapassado e que um clube não consegue ir longe sozinho, ele precisa que a cidade pegue junto.

Formato Catarinense 2014: Poderia ter sido melhor, mas nem é tão ruim

Foto: Assessoria FCF

Foto: Assessoria FCF

Os clubes chegaram hoje na Federação Catarinense de Futebol com uma missão: fazer um novo regulamento para o Campeonato Catarinense de 2014 e 2015 que fosse bom, mas não usasse muitas datas. A primeira missão tiraram de letra e o estadual começa no dia 26 de janeiro. A segunda poderia ser melhor, mas é menos ruim do que alguns andam reclamando.

Como sempre venceu a proposta dos clubes grandes contra a dos clubes pequenos. Não tem como ser diferente. Sem a Chapecoense, vice, no conselho técnico, só os votos de Criciúma (campeão) e Figueira (3º) já somam 18 votos. Mais do que os votos somados de Metrô, Atlético de Ibirama, Juventus, Marcílio Dias e Brusque (somam 16).

O pensamento dos grandes é fácil de entender. Turno único com os quatro primeiros indo pro quadrangular em turno e returno. Os dois primeiros fazem a final. Pra “privilegiar” o restante do campeonato e para eles terem mais datas também foi feito um hexagonal para definir os rebaixados e uma vaga na Copa do Brasil, já que a Copinha foi extinta.

Por um lado é interessante. Só vejo possibilidade de fazer um campeonato com turno e returno, regulamento justo e sem muitas datas, dividindo os clubes em dois grupos. Como não quiseram isso, a forma nem é tão ruim assim. Com um turno só, a competição permite zebra. E mesmo que não tenha, pelo menos um dos dito grandes vai tá no hexagonal. Permite também que a turma que não briga por vaga na semi e nem pra cair não passe várias rodadas cumprindo tabela.

Mas para não prejudicar ainda mais os clubes pequenos, a tabela vai ter que ver bem feita. Os cinco primeiros colocados do Catarinense do ano passado (Tigre, Chapecoense, Figueira, Avaí e Metrô) jogam cinco jogos em casa e quatro fora, os outros o contrário. Ano que vem inverte. Os clubes menores precisam torcer para que pegue pelo menos um dos times da capital e um dos outros grandes em casa para o estadual não ser de prejuízo. E também para ter chance de jogo transmitido.

Não dá para um campeonato estadual ter 23, 22 ou 21 datas e esse formato não pode ser “para sempre”. É provisório e os clubes já têm que começar a pensar numa fórmula melhor para os próximos anos.

Minha sugestão de regulamento para o Campeonato Catarinense

Calendário do futebol Brasileiro para 2014

Calendário do futebol Brasileiro para 2014

Há muito tempo se discute mudanças no calendário do futebol brasileiro, principalmente em relação aos campeonatos estaduais, que alguns torcedores de time grande e gente de grandes veículos, esquecem da importância. Alguns pontos são quase consensos. Estadual com 23 ou 21 datas não dá, ainda mais em ano de Copa do Mundo. Por isso decidi bolar uma sugestão de fórmula para o Campeonato Catarinense. Não é a melhor, nem a definitiva, mas o objetivo é isso mesmo. Até para a gente ir fazendo mudanças.

Parto de alguns princípios. Um deles é que se precisa diminuir as datas. Não podemos tirar os grandes da competição, seria ruim para todo mundo, principalmente para os clubes pequenos e para o próprio campeonato. Não gosto do projeto de pontos corridos, o estadual tem que ter final. E por eu achar interessante ter uma chance maior de acontecer uma zebra (o que é quase impossível em pontos corridos). Pensei no seguinte formato, que usaria 13 datas (10 a menos que hoje).

Divisão das equipes em dois grupos de cinco nesse primeiro ano. Única coisa pré-definida seria um time vindo da Segundona em casa grupo, fora isso, sorteio. Todos se enfrentam dentro do grupo em turno e returno (10 datas). Os dois primeiros de cada grupo fazem semifinal em jogo única na casa da equipe de melhor campanha (1 data) e os vencedores fazem a final em dois jogos (2 datas). Paralelo a isso, os dois lanternas de grupo se enfrentam e o perdedor cai para a Segundona. Porque isso? Muitos tem pedido um aumento para 12 clubes, no formato atual, sou contra, só incharia o campeonato. Nesse formato funciona. E assim aumentaria o número de equipes sem virada de mesa (alguém tem que cair) e sem subir quase todo mundo da Segundona. Nos outros anos cairiam os dois lanternas. Desse jeito o campeonato poderia ter só dois jogos na quarta-feira, os outros no domingo e ainda sim começar só em fevereiro.

O que fazer no resto do ano para as equipes que não disputam as três primeiras divisões do Campeonato Brasileiro? Uma Copa Santa Catarina organizada, regionalizada, valendo as duas vagas catarinenses na Série D. Para fazer esse modelo funcionar, a FCF e a SCClubes precisariam pensar um pouco nos clubes pequenos, arregaçarem as mangas e irem em busca de patrocínios e, principalmente, de transmissão de um canal de TV. Dando assim mais visibilidade e condições financeiras para a competição.

O que você achou da ideia? Qual a sua sugestão de formato para o Catarinão?

Correção: Como observou o amigo Felipe Silva e eu já arrumei ali em cima, a primeira fase teria 10 datas e não 8 como eu tinha colocado anteriormente.